Uma das imagens do espaço profundo captadas pelo projeto Alhambra
Astrônomos espanhóis acabam de divulgar o mais completo
catálogo de galáxias já produzido. São cerca de 500 mil exemplares
individualmente estudados, reconstruindo a história do Universo nos últimos 10
bilhões de anos (dos 13,8 bilhões que ele tem). Há de se respeitar o
trabalho.
O projeto, chamado Alhambra, é liderado por pesquisadores do
Instituto de Astrofísica de Andaluzia e da Universidade de Valência e resulta de
sete anos de observações feitas no Observatório de Calar Alto, em Almería, na
Espanha. A análise da assinatura de luz emitida por cada um das galáxias permite
estimar sua distância. Isso porque todas elas sofrem um fenômeno conhecido como
“desvio para o vermelho” (redshift).
Não é difícil de entender, se você se lembrar de que a luz
branca, quando separada por um prisma, resulta em um arco-íris. Num extremo,
temos a cor vermelha. No outro, a cor violeta. Por quê? Bem, quando a luz passa
pelo prisma, ele divide a luz de acordo com o seu comprimento de onda. Os mais
curtos (e energéticos) vão na direção do violeta, os mais compridos (e menos
energéticos) vão na direção do vermelho.
Certo. E o que isso tem a ver com as galáxias? Bem, a luz
branca sai delas e chega até nós, mas, dependendo da distância, essa viagem
demora bastante. A luz atravessa o espaço a 300 mil km/s, o que resulta em mais
ou menos 9,5 trilhões de km por ano. Esta é a medida que chamamos de anos-luz.
Se uma galáxia está a 1 bilhão de anos-luz de distância, sabemos que a luz dela
levou 1 bilhão de anos para ir de lá até aqui.
Bem, 1 bilhão de anos é um bocado de tempo. Nesse período, o
Universo continuou em seu irrefreável processo de expansão, o que quer dizer que
o próprio espaço entre nós e a galáxia distante estava crescendo enquanto a luz
fazia sua travessia. O esticamento do espaço produz um esticamento da própria
onda de luz. Conforme ela se estica, o comprimento de onda aumenta. Ela tende a
ficar mais vermelha.
Então, o quanto a luz desviou para o vermelho antes de
chegar até nós é uma medida direta da distância que a galáxia está. Esse é o
efeito que os pesquisadores do Alhambra usaram para medir quão longe estavam as
500 mil galáxias que eles reuniram em seu catálogo.
SURPRESAS
Os cientistas ressaltam que muitas novidades devem emergir
nos próximos meses, conforme os dados resultem em trabalhos científicos. Mas uma
coisa que eles já afirmam com seu novo censo de galáxias é que um estudo
anterior, batizado de Cosmos, não é representativo da real média de distribuição
das galáxias no Universo. O Cosmos usou diversos satélites e telescópios em
terra para observar uma pequena área de dois graus no céu. O Alhambra vasculhou
uma área bem mais vasta da abóbada celeste, o que permitiu verificar as
variações na distribuição das galáxias — em alguns lugares, há grandes
concentrações, em outros, imensos vazios.
“Estudar como as galáxias estão distribuídas nos permite
saber como as propriedades físicas que controlavam o Universo no passado eram”,
afirma Alberto Molino, pesquisador do Instituto de Astrofísica de Andaluzia e um
dos membros da equipe. “É como conhecer os lugares e as condições onde as
sementes foram plantadas em uma floresta, a partir das árvores que vemos
hoje.”
Como cobre uma vasta área, o Alhambra também analisou
estrelas individuais da Via Láctea que caíram em seu campo de visão, de forma
que resultados de astronomia estelar também podem emergir do estudo
eminentemente cosmológico.
hypescience.com