quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

SONDAS VOYAGER DESVENDAM ENIGMA INTERESTELAR

A Sonda Voyager voa através dos limites exteriores da heliosfera, a caminho do espaço interestelar. O campo magnético agora descoberto está traçado em amarelo

O Sistema Solar está atravessando uma nuvem interestelar que a física afirma que não deveria existir. Na edição de 24 de dezembro da revista Nature, uma equipe de cientistas revela como as sondas Voyager resolveram esse mistério É a segunda descoberta surpreendente, na fronteira do Sistema Solar feita pelas sondas que estão há 32 anos no espaço.

"Usando dados da Voyager, descobrimos um forte campo magnético logo depois da fronteira do Sistema Solar", explica Merav Opher, um dos autores da descoberta. "Este campo magnético mantém coesa a nuvem interestelar e resolve o enigma de longa data de como ela pode de fato existir.

A descoberta tem implicações para um futuro muito distante, quando o Sistema Solar acabará por esbarrar em outras nuvens semelhantes no nosso braço da Via Láctea.

Os astrônomos chamam a nuvem que estamos atravessando de Nuvem Interestelar Local. Ela tem cerca de 30 anos-luz de largura e contém uma mistura rala de átomos de hidrogênio e hélio a uma temperatura de 6000º C.

O mistério existencial da Nuvem Interestelar Local tem a ver com o seu entorno. Cerca de 10 milhões de anos atrás, um grupo de supernovas explodiu nas proximidades, criando uma bolha gigante de gás com milhões de graus de temperatura. A Nuvem Interestelar Local é completamente rodeada por esta fumaça de supernova de alta pressão e deveria ter sido comprimida ou dispersada por ele.

"A temperatura observada e a densidade da nuvem local não têm a pressão suficiente para resistir à "ação de esmagamento" do gás quente ao redor dela," diz Opher.Então, como essa Nuvem sobrevive? As Voyager agora descobriram uma resposta.
Concepção artística da Nuvem Interestelar Local
movimento do Sistema Solaratravés da Via Láctea

"Os dados da Voyager mostram que a Nuvem é muito mais fortemente magnetizada do que qualquer um suspeitava até agora - entre 4 e 5 microgauss", diz Opher. "Este campo magnético pode fornecer a pressão extra necessária para resistir à destruição".

Um microgauss representa um milionésimo de Gauss, uma unidade de intensidade de um campo magnético muito utilizada pelos astrônomos e geofísicos. O campo magnético da Terra é de cerca de 0,5 gauss ou 500.000 microgauss.

As duas sondas Voyager, da NASA, estão correndo para fora do sistema solar há mais de 32 anos. Elas estão agora além da órbita de Plutão e prestes a entrar no espaço interestelar - mas elas não estão lá ainda.

"As Voyager não estão realmente dentro da Nuvem Interestelar Local", diz Opher. "Mas elas estão se aproximando e podem sentir o que a nuvem é conforme se aproximam dela."

A Nuvem Interestelar Local é mantida fora das bordas do Sistema Solar pelo campo magnético do Sol, que é inflado pelo vento solar, formando uma bolha magnética mais de 10 mil quilômetros de largura - é a chamada heliosfera.

A heliosfera funciona como um escudo que protege o interior do Sistema Solar dos raios cósmicos galácticos e das outras nuvens interestelares. As duas sondas Voyager estão agora na camada exterior da heliosfera (heliosheath), onde o vento solar é desacelerado pela pressão do gás interestelar.

A Voyager 1 entrou na heliosfera em dezembro 2004. A Voyager 2 seguiu-a quase 3 anos depois, em agosto de 2007. Essas passagens para fora do Sistema solar foram fundamentais para as descobertas agora anunciadas pelos cientistas.
A anatomia da heliosfera
Depois que esta ilustração foi feita,
a Voyager 2 juntou-se à Voyager 1 na heliosfera,
uma espessa camada exterior onde o vento solar
é desacelerado pela pressão do gás interestelar

O tamanho da heliosfera é determinado por um equilíbrio de forças: o vento solar infla a bolha a partir de dentro, enquanto a Nuvem Interestelar Local a comprime de fora. As passagens das Voyager pela fronteira da heliosfera revelaram seu tamanho aproximado e, portanto, a intensidade da pressão exercida pela Nuvem Interestelar Local. Uma parte dessa pressão é magnética e corresponde aos 5 microgauss que os cientistas relataram.

O fato da Nuvem Interestelar Local ser fortemente magnetizada significa que outras nuvens nas nossas vizinhanças galácticas também poderão ser. Eventualmente, o Sistema Solar irá de encontro a uma delas, e seus campos magnéticos poderão comprimir a heliosfera além da sua compressão atual, diminuindo seu tamanho.

A compressão adicional poderá permitir que mais raios cósmicos atinjam o interior do Sistema Solar, possivelmente afetando o clima terrestre e a capacidade dos astronautas em viajar com segurança pelo espaço.

Por outro lado, os astronautas não precisariam viajar tão longe para conhecer o espaço interestelar, porque ele estaria mais próximo do que nunca.

Estes eventos ocorrem em escalas de tempo de dezenas a centenas de milhares de anos, que é o tempo que leva para que o Sistema Solar se desloque de uma nuvem para outra. Não poderia haver tempos mais interessantes à frente!" afirma Opher.

CIENTISTAS DETECTAM MOVIMENTAÇÃO DO POLO NORTE MAGNÉTICO

As linhas azuis mostram o campo magnético
norte da terra e do polo norte magnético

O polo norte magnético da Terra está avançando em direção à Rússia a quase 64 quilômetros por ano devido a mudanças magnéticas no núcleo do planeta, afirma nova pesquisa. O núcleo é profundo demais para que os cientistas detectem diretamente seu campo magnético. Mas os pesquisadores podem inferir os movimentos do campo acompanhando como o campo magnético terrestre muda na superfície e no espaço.

Agora, novos dados analisados sugerem que existe uma região de magnetismo em rápida transformação na superfície do núcleo, possivelmente sendo criada por uma misteriosa "pluma" de magnetismo proveniente do interior do núcleo. E essa região pode estar deslocando o polo magnético de sua posição de longa data no norte do Canadá, disse Arnaud Chulliat, geofísico do Institut de Physique du Globe de Paris, na França.

O norte magnético, que é o lugar para onde as agulhas das bússolas realmente apontam, está próximo, mas não exatamente no mesmo lugar do Polo Norte geográfico. Neste momento, o norte magnético está próximo à ilha canadense Ellesmere.

Por séculos, navegadores usam o norte magnético para se orientar quando estão distantes de pontos de referência reconhecíveis. Embora os sistemas de posicionamento global tenham em grande parte substituído essas técnicas tradicionais, muitos ainda consideram as bússolas úteis para se orientar sob a água ou no subterrâneo, onde não há sinal dos satélites de GPS.

O polo norte magnético se deslocou muito pouco desde a época em que os cientistas o localizaram pela primeira vez em 1831. Depois, em 1904, o polo começou a avançar rumo ao nordeste num ritmo constante de 15 km por ano.

Em 1989, ele acelerou novamente, e em 2007 cientistas confirmaram que o polo está agora galopando em direção à Sibéria a um ritmo de 55 a 60 km por ano. Um deslocamento rápido do polo magnético significa que mapas do campo magnético devem ser atualizados com mais frequência para que usuários de bússola façam os ajustes cruciais do norte magnético para o verdadeiro Norte.

Geólogos acreditam que a Terra tem um campo magnético porque o núcleo é formado por um centro de ferro sólido cercado por metal líquido em rápida rotação. Isso cria um "dínamo" que comanda nosso campo magnético. Os cientistas suspeitam há muito tempo que, como o núcleo fundido está em constante movimento, mudanças em seu magnetismo podem estar afetando a localização na superfície do norte magnético.

Embora a nova pesquisa pareça sustentar essa ideia, Chulliat não pode afirmar que o polo norte vai um dia mudar para a Rússia. "É muito difícil prever", disse Chulliat.

Além disso, ninguém sabe quando e onde outra mudança no núcleo poderá se manifestar, fazendo o norte magnético se mover rumo a uma nova direção. Chulliat apresentou seu trabalho em um encontro da União Geofísica Americana, em São Francisco. National Geographic 04 de janeiro de 2010


Marcelo Azambuja enviou esta Mensage