Em meados do ano passado, cientistas da Universidade de Montreal submeteram à ressonância magnética o cérebro de freiras carmelitas que disseram ter tido “uma experiência de intensa união com Deus”.
O objetivo imediato era ver de que modo a lembrança de Deus, nesse momento de epifania, se manifesta no cérebro. A longo prazo, a idéia dos cientistas é mapear os efeitos positivos da religião na mente dos fiéis, de modo a ser possível reproduzi-los artificialmente, considerando-se que a fé torna as pessoas mais felizes e nem todas as pessoas a têm.
Escaneado o cérebro de freiras
Seria Deus o um pontinho amarelo?
A edição deste mês da revista Scientific American Mind, que comentou alguns dos resultados do trabalho, diz que o objetivo é também entender melhor a base neural de um fenômeno que desempenha um papel central na vida de tantas pessoas.
“Essas experiências existem desde o princípio da humanidade”, declarou Mario Beauregard, responsável pelo estudo. “Elas vêm sendo relatadas por todas as culturas. É importante estudar a base neurológica da experiência religiosa, assim como fazemos com a emoção, a memória e ou a linguagem.”
A ciência que estuda a base neural da espiritualidade e emoçao religiosa é a "Neuroteologia", também conhecia como Bioteologia ou Neurociência Espiritual.
A sua meta está em descobrir os processos cognitivos que produzem experiências espirituais ou religiosas e relacioná-las com padrões de atividade no cérebro, como elas evoluiram nos humanos, e os beneficios essas experiências.
As pesquisas neuroteológicas foram iniciadas nos anos 70 pelo psiquiatra e antropólogo Eugene d’Aquili, na década de 90 se juntou ao radiologista Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia, que aos 35 anos tornou-se uma das principais figuras que explora as ligações entre espiritualidade e o cérebro
Andrew Newberg já havia submetido a exames tomográficos o cérebro de budistas tibetanos mergulhados em profunda meditação e um grupo de freiras franciscanas, que rezavam fervorosamente durante 45 minutos.
O resultado daquela pesquisa mostrou que as imagens do lobo parietal superior acusavam uma queda na atividade dessa região, que chegava a ficar bloqueada no momento mais intenso, isto é, no momento que o meditador experimenta a sensação de iluminação religiosa.
O mais interessante é que essa área do cérebro proporciona ao homem o senso de orientação no espaço e no tempo.Isso levou os pesquisadores a concluírem que, privados de impulsos elétricos, os neurônios do lobo parietal desligariam os mecanismos das funções visuais e motoras do organismo.
Isso levou Newberg a dizer:
O sentimento de unicidade parece paralisar os receptores sensórios da região parietal”. Exatamente por isso, o cérebro não consegue traçar fronteiras e por isso percebe o “eu” como um ente expandido, ilimitado e unido a todas as coisas.
As imagens dos lobos temporais, na região do “cérebro emocional”, também conhecida como sistema límbico, indicam uma atividade intensa dessas áreas durante as experiências contemplativas.
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