Um estudo sobre a origem dos componentes básicos do DNA e do RNA, as moléculas que são a base genética dos seres vivos, revelou que eles podem ter chegado à Terra dentro de rochas espaciais.
A descoberta, anunciada nesta semana pela Nasa e pela Instituição Carnegie de Washington, foi a conclusão de uma pesquisa que analisou 12 meteoritos encontrados na Antártida e na Austrália.
Dentro deles foram encontrados sete tipos diferentes de bases nitrogenadas, blocos moleculares do mesmo tipo daqueles que formam o DNA.
Duas dessas substâncias são idênticas àquelas encontradas no maquinário genético de seres vivos, a adenina e a guanina (o A e o G das letras que representam a sequência do DNA). Foram as outras cinco moléculas achadas, porém, que despertaram o interesse dos cientistas.
Encontrar adenina e guanina em meteoritos não é tão difícil. Mas ainda não existia prova de que vêm mesmo de carona nessas rochas que caem do espaço.
Como a vida terrestre hoje sintetiza bases nitrogenadas em abundância, é possível que nosso planeta tenha "contaminado" os meteoritos assim que tocaram o chão.
As outras cinco moléculas encontradas pela nova pesquisa, porém, são de tipos "raros", que não existem dentro de seres vivos, e estavam em concentração relativamente grande.
"Isso nos deu confiança de que estávamos olhando para o produto de uma reação química ocorrida na formação dos meteoritos, e não para o resultado de contaminação terrestre", disse à Folha o geoquímico Michael Callahan, do Centro Goddard de Voos Espaciais da Nasa, na periferia de Washington, onde as análises foram feitas.
"Uma das moléculas, uma diaminopurina, é capaz de inibir a transcrição [transmissão de informação] do DNA. Se você interrompe a transcrição, você barra a produção de proteínas e impede a ocorrência de vida. Então, seria contraintuitivo achar essa moléculas numa estrutura biológica", completa.
Para reforçar a conclusão, os cientistas compararam os meteoritos com amostras de solo onde eles foram coletados. As bases nitrogenadas do tipo "extraterrestre" não estavam presentes.
Ao misturar hidrogênio com cianetos, moléculas com carbono e nitrogênio na ponta, Callahan e sua equipe conseguiram produzir, em laboratório, exatamente o mesmo conjunto de moléculas encontrado no asteroide.
Como formas de cianeto são relativamente abundantes no espaço, os cientistas acreditam ter encontrado o primeiro passo da receita para produzir DNA e RNA numa época em que a vida ainda estava por surgir na Terra.
Jornal Folha de São Paulo
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