Tesla
já sabia sobre o futuro da TV e tecnologia de telefones móveis
No
início de 1926, quando a tal entrevista com Tesla foi publicada, a televisão
estava engatinhando ainda. Mas só o fato de ela ter sido inventada foi
suficiente para Tesla ver um futuro brilhante para aquela tecnologia. Já
naquela época, ele previu o que hoje chamamos de Smart TVs.
Segundo
palavras do próprio Tesla, quando a tecnologia sem fio (nossa queria wireless)
estivesse perfeitamente estabelecida no mundo todo (como está cada vez mais), o
planeta se tornaria um enorme cérebro. Na entrevista, ele inclusive disse que
seríamos “capazes de nos comunicar uns com os outros de imediato,
independentemente da distância”.
Ele
também chegou a falar com todas as palavras que por meio da televisão e da
telefonia iríamos poder ver e ouvir uns aos outros perfeitamente como se
estivéssemos frente a frente, ainda que estivéssemos fisicamente separados por
milhares de quilômetros. “Um homem será capaz de transportar uma [dessas
tecnologias] no bolso do colete”. E não é que ele acertou!?
“Seremos
capazes de testemunhar e ouvir eventos de posse de um presidente, a reprodução
de um jogo, a destruição causada por um terremoto ou o terror de uma guerra
como se estivéssemos presentes. Quando a transmissão sem fio de energia for
comercial, os transportes e a comunicação serão revolucionados. Já os filmes
serão transmitidos por wireless de curta distância. Mais tarde, a distância
será ilimitada”.
A
transmissão sem fio foi de particular interesse para Tesla, como você vai ver
no próximo item. Mas foram suas previsões em torno da tecnologia de telefonia
móvel que têm se mostrado mais realizadas, digamos assim, aqui no início do
século 21.
Tesla
sobre máquinas voadoras
Tesla
foi incrivelmente otimista em relação ao futuro das máquinas que voam a partir
da perspectiva de 1926.
“Talvez
a aplicação mais valiosa da energia sem fio será a propulsão de máquinas
voadoras, que não vão precisar de nenhum combustível e estarão livres de quaisquer
limitações dos atuais aviões e dirigíveis. Vamos voar de Nova York para a
Europa em poucas horas. Fronteiras internacionais serão em grande parte
destruídas e um grande passo será dado em direção à unificação e existência
harmoniosa das várias raças que habitam o planeta. A tecnologia sem fio não só
irá tornar possível o fornecimento de energia para regiões inacessíveis, como
também vai ser politicamente eficaz, harmonizando interesses internacionais;
ela irá criar compreensão em vez de diferenças”.
A
ideia de viajar de Nova York para Londres em apenas algumas horas permaneceu
uma fantasia até a era do jato, mas ainda estamos à espera de aviões que
“carregam nenhum combustível”, como ele previu.
Tesla
sobre energia sem fio e impressão de jornais em casa
Tesla
estava muito à frente de seu tempo, de muitas formas. E como ele e Hugo
Gernsback (que era inventor, editor e autor de ficção científica) eram amigos,
pode-se traçar uma linha direta entre algumas das idéias que Tesla teve e as
previsões fascinantes que iriam aparecer em muitas revistas de tecnologia e
ficção científica de Gernsback. Um exemplo perfeito é o do jornal sem fio.
Ele
previu que os aparelhos receptores, da forma como conheciam em 1926, seriam
extintos. “Estática e todas as formas de interferência serão eliminadas, de
modo que inúmeros transmissores e receptores poderão ser operados sem
interferência. É mais do que provável que o jornal diário seja impresso ‘sem
fio’ em casa durante a noite”.
Perceba
que Tesla estava prevendo jornais sem fio nos 1920, mas o pessoal da indústria
começou a ensaiar a impressão de jornais em casa só na década de 1930. Apesar
de ser incrivelmente lento e barulhento, a engenhoca realmente funcionou.
Tesla
previu a superioridade feminina, para o bem e para o mal
Nikola
Tesla proclamou nesta mesma entrevista que um dia – em breve – as mulheres
seriam superiores aos homens. Mas ele não quis dizer isso como sendo uma coisa
exatamente positiva. Na verdade, dentro do contexto de suas crenças da época,
ele era absolutamente aterrorizado com a ideia de que as mulheres se tornassem
“vítimas” de seu próprio sucesso.
Collier
publicou o que ele disse:
“É
claro que para qualquer observador treinado e até mesmo para o sociologicamente
destreinado, uma nova atitude com a discriminação sexual permeou todo o mundo
através dos séculos, recebendo um estímulo abrupto logo depois da Primeira
Guerra Mundial. Esta luta da fêmea humana em direção a igualdade entre os sexos
vai acabar em uma nova ordem, com a mulher sendo superior. A mulher moderna,
que antecipa em fenômenos meramente superficiais o avanço de seu sexo, é apenas
um sintoma superficial de algo mais profundo e mais potente do que está
fermentando no seio da corrida.
Não
é na imitação física rasa de homens que as mulheres vão conquistar a sua
igualdade e mais tarde a sua superioridade, mas sim no despertar do intelecto
das mulheres.
Através
de inúmeras gerações, desde o início, a subserviência social das mulheres
naturalmente resultou na atrofia parcial ou, pelo menos, na suspensão
hereditária de qualidades mentais que sabemos não ser nada inferiores do que a
dos homens”.
O
momento que vivemos atualmente, em que as mulheres estão cada vez mais fortes
no mercado de trabalho, deixam bem claro que Tesla acertou mais uma vez.
Ele
continua o raciocínio na entrevista:
“Mas
a mente feminina tem demonstrado uma capacidade para todas as aquisições
mentais e conquistas dos homens, e com as gerações futuras essa capacidade será
ampliada; a mulher média vai ser bem educada como o homem médio e, em seguida,
mais instruída. As faculdades latentes do seu cérebro serão estimuladas para
uma atividade que será tanto mais intensa e poderosa por causa dos séculos que
esteve em repouso. A mulher vai ignorar os precedentes e assustar a civilização
com seu progresso.
A
aquisição de novos campos de atuação das mulheres, a sua usurpação gradual da
liderança, vai finalmente dissipar as sensibilidades femininas, vai sufocar o
instinto maternal, de forma que o casamento e a maternidade podem se tornar
abomináveis e a civilização humana vai se desenhar cada vez mais como a
civilização das abelhas”.
Nikola
Tesla tinha uma relação complicada com as mulheres, e muito porque ele não
sabia como se comunicar melhor com elas. Ele até chegou a demitir uma
secretária porque achava que ela estava muito gorda.
Tesla
sobre eugenia e a perfeição da humanidade
No
final da entrevista para a revista Collier, vemos indícios de ideias de Tesla
em torno de eugenia que ficaram rondando a cabeça dele até o fim de seus dias.
“A
imaginação vacila diante da perspectiva de analogia entre a civilização humana
e a misteriosa civilização soberbamente dedicada das abelhas; mas quando nós
consideramos como o instinto humano para a perpetuação domina a vida em suas
manifestações normais, exageradas e perversas, vemos uma justiça irônica na
possibilidade de que esse instinto, com o avanço intelectual constante das
mulheres, pode ser finalmente manifestado na forma das abelhas, mas vai demorar
séculos para quebrar os hábitos e costumes dos povos que barram o caminho para
que tal civilização exista de forma simples e cientificamente ordenada.
Vimos
um início deste movimento nos Estados Unidos. Em Wisconsin a esterilização de
criminosos confirmados e exames de homens pré-casamento são exigidos por lei,
enquanto a doutrina da eugenia é agora, corajosamente, pregada onde há algumas
décadas a sua defesa era tida como uma ofensa. Homens velhos sonham e jovens
têm tido visões desde o início dos tempos. Nós, hoje, só podemos sentar e nos
perguntar quando um cientista terá sua voz”.
A
defesa de Tesla sobre a esterilização forçada e aprovação do governo para
parceiros de casamento não era tão bizarra em alguns círculos sociais, mas é
certamente um aspecto de seu sistema de crença que muitas pessoas aqui no
século 21 gostariam de esquecer. Me incluo nessa.
Tesla
foi um inventor brilhante e um pensador visionário, isso é fato. Especialmente
depois de saber quantas coisas ele previu em uma época em que coisas como
“transmissão sem fio” eram difíceis de se pensar até para a ficção. Mas, como a
grande maioria dos gênios, ele era um homem complexo, com ideias que podem ter
sido moda para alguns em seu tempo, mas fazem com que pensadores modernos
torçam o nariz.
Gabriela
Mateos
Gizmodo
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